Eu tive muita, mas muita dificuldade para estudar, minha família, tradicionalmente não incentiva, morava em um local que não existia ensino médio, para estudar tive que sair da casa de meus pais, mudar de cidade e trabalhar em sub emprego, por um tempo tive que ser autodidata, pois trabalhando 14 horas por dia e gastando outras três dentro de ônibus, não me restava tempo nem disposição para frequentar uma escola. Entre estudar e sobreviver tive que sobreviver, mas venci pela educação. Escrevo este texto para contribuir na reflexão sobre a educação brasileira.
Cada aluno da escola pública custa aproximadamente três mil reais por ano ao Estado, no entanto, nossas escolas estão sucateadas, pois se gasta mal. De cada 100 pessoas que concluem o Ensino Fundamental somente 50 consegue concluir o Ensino Médio e menos da metade desses chegam a faculdade, A metade fica pelo caminho. Isso não pode continuar assim, jovem que não estuda está vulnerável ao desemprego e às drogas.
A educação não pode mais ser amadora, tem que se profissionalizar, escola tem que ser tratada com responsabilidade, prestar contas, mostrar resultados e visar valores. Professor precisa ganhar mais, mas tem que mostrar resultado, a continuar do jeito que está é ruim para ele e péssimo para sociedade. O aluno também precisa ser conscientizado que o ensino público custa caro à população e, portanto, deve ser valorizado. Os pais tão importantes no processo do aprendizado precisam ser envolvidos, conscientizados que sem eles o círculo não se fecha. É preciso ter metas para os alunos cumprirem, devem ser incentivados de forma criativa a participarem da vida acadêmica.
Temos muitas escolas de ensino médio e fundamental, sem quadra de esporte, sem laboratórios, sem carteiras adequadas, sem professores e tantas outras deficiências, isso é gravíssimo, qual a mensagem e exemplo que estamos passando aos alunos com tamanho desrespeito?
A falta de interesse pela escola é o principal motivo que leva o jovem brasileiro a evadir. A pesquisa Motivos da Evasão Escolar, feita pela Fundação Getúlio Vargas – FGV-RJ, revela que 40% dos jovens de 15 a 17 anos que evadem, deixam de estudar simplesmente porque acreditam que a escola é desinteressante. A necessidade de trabalhar é apontada como o segundo motivo pelo qual os jovens evadem, com 27% das respostas, e a dificuldade de acesso à escola aparece com 10,9%. Outras pesquisas dão conta que 65% dos alunos do 5ºano não dominam cálculos simples, 60% dos alunos do 9º ano não sabem realizar cálculos de porcentagem.
A qualidade de nossa educação é baixíssima, todos sabemos disso, o analfabetismo no ensino fundamental é elevado, outro problema é o excesso de assunto, quando não estamos preparados nem para o básico ( Português, matemática, biologia, história, geografia), alguns professores faltam muito ao trabalho, é preciso responsabiliza-los, afastar os maus profissionais, para que os bons não sejam confundidos, professor não pode ser tratado como coitadinho, não deve levar serviço para casa, tudo tem que ser resolvido na escola. A distância dos pais também contribui para o fracasso da nossa educação. Todo descaso no ensino fundamental reflete no ensino médio e superior, é por isso que, quem pode paga ensino privado para seus filhos, pois querem o melhor, e não devem ser condenados por isso, apenas ressalto que não deveríamos conformar com isso, pois pagamos bem caro pela educação, então deveríamos cobrar fortemente a entrega desse serviço pelo poder público. Claro, existem casos de escolas públicas excelentes, mas são exceções, os problemas são inúmeros. O que fazer para resolver isso?
1- Melhorias salarias e plano de carreira por mérito aos professores, mais preparo para todos que estão envolvidos na escola;
2- Criar condições e exigências para engajamento dos pais no processo educacional, mas falo de um envolvimento radical, treinando-os inclusive para serem professores auxiliares, dando responsabilidades a eles também;
3- Melhorias nas condições estruturais dos prédios;
4- Responsabilização de alunos e pais por danos materiais a escola;
5- Correções pedagógicas aos alunos indisciplinados;
6- Escola de tempo integral não adianta para a maioria de nossa realidade, salvo raras exceções, escola ruim em dobro é pior, temos antes que melhorar para somente depois ampliar;
7- Ampliar a recuperação por disciplina a partir do segundo ciclo. Não é inteligente um aluno que reprovou em matemática ser reprovado de ano e ter que refazer todas as outras disciplinas novamente, isto não significa mudar alunos de ano indiscriminadamente, somente para cumprir metas, devemos ampliar a recuperação e experimentar também aulas de reforço para os alunos com maiores dificuldades dentro das escolas;
8- Escolas com foco. Ensino médio, ou o terceiro ano com foco profissional oferecido para alunos com méritos, para que possam motivar os alunos a melhorarem seus rendimentos e direcionar suas carreiras;
9- Não temos boa formação para os professores de ensino fundamental, ele não aprende bem o que vai ensinar e passa muitas vezes a culpar o aluno, um assunto pode ser ensinado de várias maneiras, para ser criativo o professor precisa conhecer muito bem o que ensina, professores tem que ter ótima formação e serem escolhidos dentre os melhores, esta, aliás é a lição de países que estão no topo da educação como Finlândia, Coreia do sul e Japão. Alunos não são homogêneos, somente um professor bem preparado pode identificar isto, talvez uma experiência de classifica-los e investir mais (dois professores em sala) naqueles com maiores dificuldades venha ajudar.
São ideias gerais e abertas, mas que pode causar uma revolução na educação. A solução somente virá com o engajamento da sociedade, a abertura para discussões e implementações rápidas. Sociedade e poder público devem estimular um ambiente que propicie quebra de paradigmas, abrir o debate, discutir novas estratégias, ter paixão e não temer o novo.
Celso Corsino
Formado em ciências sociais, pós graduado em marketing , gestão de pessoas e Coaching