Ruben Alves no artigo “Sobre Política e Jardinagem” abordou a importância da política e começou comparando o papel do poeta e do político.
“Um político por vocação é um poeta forte: ele tem o poder de transformar poemas sobre jardins em jardins de verdade”.
O político vocacionado é aquele capaz de enxergar além das disputas de grupos pelo Poder. É aquele capaz de perceber que das suas atitudes dependem o trabalhador que anda no ônibus, a mãe de família que não tem com quem deixar o filho pra ir trabalhar, o estudante que deposita na escola seus sonhos de um futuro melhor. São tão pouco hoje em dia.
A política, para a maioria, resumiu-se num ganhar eleição, comemorar a derrota do adversário, usufruir até a última gota das benesses do poder e fazer um ou outro favor aos eleitores, como se distribuir migalhas para as pessoas mais necessitadas fosse a forma de retribuir o voto.
Estamos cheios de políticos que, na imagem de Guimarães Rosa, citado por Ruben Alves, pensam em minutos e “quem pensa em minutos não tem paciência para plantar árvores. Uma árvore leva muitos anos para crescer. É mais lucrativo cortá-las”.
O futuro está na política que pensa em eternidades. Que age pensando na vida dura do operário do distrito, na dedicação e sacrifício dos professores, na esperança nos olhos da criança que vai à escola, no choro da mãe quando falta o leite do seu filho. Gente que pensa no ser humano, no amor ao próximo, no fazer solidário.
Os nossos homens da política que só pensam em minutos, que só pensam no poder e em ganhar eleições, cegam para a vida, fazem do eleitor um mero detalhe. A sua luta não é pra servir.
A política, como a vida, precisa de gente que, nos dizeres de Ruben Alves, tiveram o amor e a paciência de plantar árvores à cuja sombra nunca se assentariam.
*Publicado no Jornal Agora, edição de 01.07.15 (quarta-feira)