BRASÍLIA – Quando assumiu, há 71 dias, a presidência da Comissão Especial encarregada de analisar areforma da Previdência na Câmara, o deputado Marcelo Ramos (PL-AM) foi direto: disse que não tinha qualquer simpatia pelo presidente Jair Bolsonaro, mas trabalharia pela votação da proposta encaminhada pelo Executivo. Concluída a votação, na madrugada desta sexta-feira , após 191 horas de debates, Ramos continua com uma postura bastante crítica ao presidente da República. Para ele, há “dois Bolsonaros”, um corporativista e um liberal. Quando os dois entram em conflito, vence o populista.
Quer saber quanto tempo falta para você se aposentar Simule aqui na calculadora da Previdência
Na primeira entrevista após a conclusão do processo, o parlamentar diz ao GLOBO que o Legislativo carregou a condução dos trabalhos nas costas e entregou mais do que o governo pediu, ao criticar o custo de transição para a capitalização. Para a próxima etapa, no plenário, prevê a continuidade de lobbies por benefícios para categorias como a da segurança, mas confia em um comprometimento dos congressistas com a pauta econômica.
A questão da inclusão de estados e municípios na reforma da Previdência ficou em aberto até o último momento. O senhor acredita ainda ser possível mudar o texto no plenário da Câmara?
– Ainda dá tempo. Não podemos perder a chance de resolver a questão previdenciária dos estados, porque no fim essa conta depois vai para a União. Não será um movimento fácil. Nós abrimos mão dessa estratégia na comissão, porque não valeria a pena perder a reforma para a União e não havia tinha unidade entre os parlamentares para incluir estados e municípios. Mas acho que vale a pena tentar.
Havia uma expectativa de que os governadores trabalhariam pela inclusão de estados e municípios, o que acabou não ocorrendo. Faltou força dos governadores?
– Minha impressão é que os governadores têm pouca ascendência sobre as suas bancadas. Alguns, pela fragilidade do próprio governador, como no caso do meu estado (governado pelo estreante Wilson Lima). O (Wilson) Witzel, do Rio, e o Romeu Zema (de Minas Gerais) também. São governadores que não têm ascendência nenhuma, zero. Outros têm dificuldades por questões mais políticas e até ideológicas, como governadores do PT. Alguns estão convencidos de que precisam da reforma, mas não conseguem, do ponto de vista político e ideológico, fazer com que parte dos deputados do PT votem a favor da proposta.
Essa opção de não atrasar a votação e deixar temas pendentes para o plenário decidir depois foi uma boa estratégia?
– O único ponto que ficou para acertar no plenário foi estados e municípios.
E a questão da segurança?
– O da segurança está resolvido. O plenário pode mudar, mas está resolvido. Em segurança, é preciso separar as categorias. Para as polícias militares, nós demos uma solução razoável. A União legisla sobre regras gerais e os estados legislam sobre regras específicas. No caso da Polícia Federal e da Polícia Rodoviária Federal, não houve acordo por absoluta intransigência deles. Havia uma proposta de idade mínima de 53 anos para homem e 52 anos para mulher, com transição de 100%, e eles não toparam. Agora você imagina, estamos propondo que o pedreiro, o gari, o ajudante de servente trabalhem cinco anos mais, até 65 anos de idade, e o policial federal não pode trabalhar até 53? Não é razoável. Ao não aceitarem essa proposta, que foi mediada, eles ficaram com o texto original.