Esse não é uma manifesto de esquerda e nem de direita. Essenão é um manifesto em defesa de PT ou PSDB ou de qualquer dos outros “pês”.Esse é um manifesto para homens e mulheres de diálogo. Para homens e mulheres tolerantes e que respeitam as diferenças. Para homens e mulheres que não querem construir um país para si, querem construir um país melhor e mais justo para todos.
A pergunta é: que Brasil surgirá após essa crise econômica, política e ética?
Lembro que em 2009 escrevi um artigo sobre o pragmatismo exagerado do presidente Lula. Parece que eu estava a prever o futuro do PT.
“O que Lula não percebe é que talvez seu pragmatismo só seja menor que o do PMDB e este, por certo, o abandonará no primeiro sopro de vitória do PSDB nas próximas eleições.
Quando Lula e uma parte do PT perceberem o quanto machucaram seus aliados históricos e até seus partidários, perceberão que já não sobra ninguém para lutar com eles”. (Lula e o Pragmatismo na Política, 2009)
O pragmatismo sem limite de Lula desmoralizou e jogou na lama o projeto das esquerdas brasileiras e isolou o Partido dos Trabalhadores nas causas progressistas e de defesa de direitos fundamentais.
O que assistimos hoje é uma panaceia. E o país começa a correr o risco de andar pra trás, perdendo conquistas, direito e garantias importantes previstas na Constituição de 1988, conquistas essas que não são do PT, são dos brasileiros.
De um lado, o povo, frustrado e decepcionado com o que o governo do PT representou para o país do ponto de vista ético e econômico. Do outro, um parlamento oportunista e venal, com uma oposição sem responsabilidade nem mesmo com as suas bandeiras históricas. No canto do ringue, um governo sem apoio popular, sem credibilidade, sem base sólida, um governo que não governa.
O cenário é de tragédia.
Homens inteligentes e cultos traindo as suas convicções políticas e ideológicas por absoluto oportunismo político-eleitoral. A Câmara dos deputados tratando temas fundamentais para o país como se fosse uma briga de torcidas, com ridículas e patéticas comemorações.
Pra onde vamos?
Falta-nos uma voz de bom senso. Vivemos num país divido entre Jeans Willys e Jairs Bolsonaros (duas faces da mesma moeda da intolerância). Um país refém da disputa entre PT e PSDB, mediada pelas chantagens do PMDB. Não há, no momento quem demonstre a grandeza necessária para uma saída responsável da crise.
Aprendi com o passar dos anos e os erros da caminhada que não se combate intolerância com intolerância, que não se abre mãos de princípios por oportunismos eleitorais e que o remédio para uma crise na democracia é mais democracia.
Escrevo esse texto para que, na ausência de uma liderança nacional que se disponha a esse papel de estadista – alguém mais responsável com o país que com as eleições – esse seja um movimento coletivo de brasileiros e brasileiras dispostos a assumir os destinos do país.
Assumir o protagonismo nesse momento histórico é não participar dessa briga de torcidas, é cobrar responsabilidade e austeridade dos homens públicos, é ser firme com princípios e comprometido com o respeito às diferenças de opinião, é exigir a consolidação de instrumentos democráticos e eleitorais a serviço da participação popular e não à serviço dos políticos.
O Brasil precisa de brasileiros que divirjam sem perder a capacidade de dialogar, que tenham suas preferências partidárias sem abrir mãos do seu compromisso com os interesses maiores do país, que olhem pra crise que vivemos com a responsabilidade de não sair dela com vitoriosos e derrotados, mas sair com um país unido em torno da retomada do crescimento econômico e do aperfeiçoamento da democracia.
Não são esses tolos que assistimos pela TV comemorando uma votação na Câmara como quem comemora um gol que mudarão o país. Quem mudará o país são os que acordam cedo para o trabalho, vivem uma vida pautada na ética e no compromisso com a verdade, não aceitam favores injustificados e insistem na honestidade e na conduta ética. Só com esses andaremos para frente.
Marcelo Ramos
Advogado e Escritor