“Eu não respeito um delator, até porque eu estive presa na ditadura e sei o que é. Tentaram me transformar em delatora, a ditadura fazia isso com as pessoas. Eu garanto para vocês: eu resisti bravamente e até em alguns momentos fui mal interpretada quando disse que, em tortura, a gente tem de resistir porque, senão, você entrega. Não respeito nenhum, nenhuma fala”, disse a presidente a repórteres em Nova York.
Com a essa desastrosa declaração a presidente Dilma reagiu à delação premiada do empresário Ricardo Pessoa, dono da UTC, que declarou ter sido vítima de extorsão por parte do tesoureiro de campanha dela e hoje Ministro da Comunicação Social, Edinho Silva.
Ao comparar a delação do empresário Ricardo Pessoa, dono a UTC, feita por intermédio de um mecanismo da democracia de combate à corrupção (delação premiada) à tentativa de que ela se tornasse delatora dos seus companheiros através de um instrumento da ditadura (tortura), a presidente Dilma comparou a sua resistência democrática à tortura ao gesto de um criminoso que pretende apenas reduzir a sua pena e jogou na lama o pouco que sobra da sua reputação.
A delação premiada serve para combater o crime organizado. A tortura serve para subjugar inimigos.
São situações absolutamente incomparáveis. Dilma quando resistiu à tortura não protegia ladrões de dinheiro público, protegia homens e mulheres que ousaram resistir à ditadura militar. Ricardo Pessoa quando faz a sua delação premiada, ainda que forçado por benefícios penais, entrega criminosos que se organizaram para saquear os cofres públicos.
No discurso, a presidente Dilma se igualou a um criminoso. Sob a sua lógica, com a única diferença de que ela não cedeu a tortura e ele cedeu aos benefícios da delação premiada.
Na delação não importa a reputação do delator, importa o conteúdo da sua delação, sempre em confronto com as demais provas dos autos. Portanto, tentar desqualificar o delator não muda nada. Deveria a presidente ter sido firme em relação ao conteúdo das denúncias e não à reputação do denunciante.
Um crime não deixa de ser crime porque o denunciante ou a testemunha é um criminoso.
Sempre que Dilma fala de improviso comete esses deslizes verbais. É lamentável a mediocridade intelectual da nossa presidente e sua incapacidade de enfrentar os momentos de crise com diálogo e tolerância.